Milhares de pessoas extravasaram sentimentos antagônicos durante a sessão do júri que condenou Alexandre Nardoni e Ana Jatobá pela morte da pequena Isabella Nardoni. Muitos estavam eletrizados pelo “espétaculo” de um crime de verdade. Era sangue mesmo. Não era mertiolate. Como na letra de “Metrópole”, de Renato Russo, estavam “todos satisfeitos com o sucesso do desastre. – Vai passar na televisão“. E passou.
Uns destilavam ódio contra os réus e manifestavam claro desejo de vingança. Muitos pensaram em linchamento. Outros agiram como se estivessem numa arena romana, ou numa praça europeia da Idade Média, à espera da “ostentação dos suplícios”. Leões e hienas rondavam por ali, à espera das vísceras dos criminosos.
O desequilíbrio de parte dos manifestantes em frente ao Fórum de Santana, em São Paulo, chegou ao paroxismo quando o ódio aos réus se converteu em um perigoso e inconcebível ódio aos advogados que lhes defendiam. O defensor Podval foi xingado e fisicamente agredido por bestas-feras que ali estavam “em busca de Justiça” (sic).
Contudo, olhando alguns dos rostos ali reunidos, uma outra leitura também é possível. Muitas das pessoas lá presentes realmente se aglomeraram à porta do fórum para procurar justiça. Muitos de nós estamos cansados da violência cotidiana e amedrontados pelo crime e não suportamos mais tantos casos de impunidade. O júri do caso Isabella serviu a isso: revelar o descontentamento do povo em relação à leniência para com o crime. E serviu como palco para expressar uma esperança de mudança. Não queremos mais perder pessoas queridas. Já são tantas… Já basta!
Alguns dos presentes soltaram rojões. Outros aplaudiram. Muitos sorriram. Alguns gargalharam. Uns tantos choraram, de alegria ou de tristeza. Somente um cientista social, ou um especialista em psicologia das massas poderá explicar razoavelmente tais manifestações.
Pão e circo, direito penal midiático, show da vida e da morte. Neste júri, como em outros tantos, nada há a comemorar. Uma mãe perdeu sua amada filha para um túmulo no cemitério. Dois pequenos meninos perderam sua mãe e seu pai para o túmulo das prisões. Como em toda tragédia humana, ninguém venceu. Perdemos todos nós.
Fez uma ótima explanação e apresentou algo interessante: As pessoas que estão sempre disposta a fazer justiça com as próprias mãos tem um criminoso oculto pronto para aproveitar da situação delicada para cometer crime.
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Um jurista que não fala para os expectadores. Não importa o gosto ou o desgosto dos ouvintes. Um texto com clarões sociológicos.
Adorei o blog.
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Eles só teriam um julgamento imparcial (Simone Schreiber) se fossem julgados, quem sabe, no norte ou em algum rincão sem televisão ou outro tipo de mídia. O fanatismo no forum demonstra isso. Abrs
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Apesar de todo desenvolvimento tecnológico e a agilidade do acesso ao conhecimento o homem, infelizmente, continua com a sua memória repteliana ativa e dominante.
Eduardo Leite
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Vladimir, texto perfeito !!
Os que agiram como animais, são os que gostam de aparecer, (baderneiros) ato ridículo.
A falta de educação e o desrespeito são imperdoáveis !!
Quanto ao nada há a comemorar…
A impunidade, independente de qualquer crime está ou estava sempre vencendo. Acho que a partir deste julgamento, muitos pensarão duas vezes antes de cometer um crime.
Obrigada pelos esclarecimentos.
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